Especialistas se reúnem para discutir políticas públicas de combate ao crack
Representantes de PE, MG, AL e DF estão na capital pernambucana para propor mudanças nas formas de combater o problema, que atinge 0,7% da população brasileira
Para propor mudanças nas formas de combater o crack, especialistas pernambucanos e dos estados de Minas Gerais, Alagoas e Brasília se reúnem, desta quinta-feira (24) até sábado (26), em um simpósio no Recife. Devido ao seu alto poder de destruição, o crack tem causado sofrimento a várias famílias e se transformou em um grave problema social - para alguns especialistas, uma epidemia. No Brasil, 0.7% da população está em uso de crack. A expectativa da próxima pesquisa é que suba para 1.2%. São de 60 mil a 120 mil dependentes aqui em Pernambuco.
O crack é preparado a partir da pasta base de cocaína e, assim que fumado, alcança o pulmão e provoca inúmeras alterações. De acordo com o psiquiatra Marcelo Machado (foto 1), entre 10 e 15 segundos, já é possível notar os efeitos. “Como a base é cocaína, quando ela é inalada, vai sendo absorvida pelo cérebro e causa uma sensação de prazer. Por isso que, quando ele não usa, a compulsão e desprazer se instalam rapidamente”, explica.
Segundo o especialista, os consumidores do crack, geralmente, estão entre a adolescência e na vida adulta, na faixa etária de 12 a 30 anos de idade. “É importante ser dito que a proporção de homens e mulheres é a mesma. A impressão de que há mais homens não é real. É que a maioria das mulheres tem dificuldade em conseguir um lugar para se tratar”, diz Marcelo.
Ele conta que a expectativa de vida, hoje, é de 5 a 10 anos a partir do uso excessivo da droga. “É um dado recente, brasileiro. O falecimento acontece em 70% dos casos, quando não são tratados”, conta. Em Pernambuco, são 1.440 leitos gratuitos para tratamento dos usuários de crack. Mas, segundo Marcelo, a demanda é que tem crescido rapidamente.
“Esse acesso ao tratamento é dificultado porque a demanda é muito grande. Então o contingente é enorme, não dá conta. Todas as comunidades terapêuticas têm uma lista de espera. Então existe uma epidemia, sim”, afirma.
De acordo com Marcelo, o problema não está restrito apenas às cidades grandes. “É importante frisar que o crack está presente em todos os municípios do Interior. Essas comunidades terapêuticas têm a capacidade de interiorização das ações e de trazer o tratamento para mais perto do dependente químico”, diz.
O subsecretário de políticas sobre drogas de Minas Gerais, Cloves Benevides (foto 2), afirma que o crack mudou o cenário da saúde pública do Brasil. “Quando nós imaginávamos ter as respostas para os problemas das drogas, o crack veio e mudou as perguntas. Hoje, é necessária uma ampliação das possibilidades. Criar ações públicas nos atendimentos e assistências sociais, somada às estratégias de repressão qualificada e com o apoio das instituições sociais”, afirma.
Segundo ele, em Pernambuco, há uma série de instituições que agregam suas experiências às políticas públicas convencionais no campo do combate às drogas. “O que precisamos fazer agora é somar esforços. Multiplicar possibilidades. Não existe uma abordagem única e objetivamente solucionadora desse problema. É preciso potencializar as ações públicas, reconhecer a eficiência da rede comunitária e agregar valor a todo esse movimento”, conclui Benevides.
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