Lula sobre voltar à Presidência: "não posso dizer que não"

segunda-feira, dezembro 20, 2010 Inaildo Dionisio 0 Comentários


Lula diz que descerá a rampa do Palácio do Planalto "de cabeça erguida"
Foto: Bruna Prado/Futura Press
Reduzir Normal Aumentar Imprimir A menos de 15 dias do fim de seu segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não descartou a possibilidade de voltar a disputar uma eleição ao cargo. "Não posso dizer que não porque sou vivo. Sou presidente de honra de um partido, sou um político nato, construí uma relação política extraordinária", disse Lula em entrevista ao programa É Notícia, da RedeTV!, quando perguntado se voltaria a disputar a Presidência um dia. O presidente fez uma ressalva: "Vamos trabalhar para a Dilma (Rousseff, presidente eleita) fazer um bom governo e, quando chegar a hora certa, a gente vê o que vai acontecer".
Agora o presidente pretende descansar. "Vou tirar umas férias que não tiro há 30 anos. Uns dois meses num lugar onde eu não tenha que fazer nada, discutir política, fazer absolutamente nada." Lula disse que a crise do Senado, em 2009, foi tentativa de golpe da oposição e que apoiou José Sarney para manter "a institucionalidade". Sobre o mensalão, Lula voltou a dizer que, quando deixar a Presidência, vai "estudar um pouco o que aconteceu no período". O presidente afirmou ser "fã" de Barack Obama. "Ele só tinha que ter a ousadia que o povo americano teve votando nele. Recebeu uma herança maldita do governo Bush".

Vida de presidente

Lula falou durante a entrvista sobre a emoção de assumir e deixar a presidência depois de anos anos de poder. "Vou sair pela mesma rampa que subi, de cabeça erguida, com a minha família, e se Deus quiser com o Zé Alencar, tendo a certeza de que nós não fizemos tudo mas fizemos muita coisa neste país". Segundo o presidente, seu governo conseguiu fazer grande parte daquilo que foi sua própria vida, que construiu junto com o movimento social e no PT.
Questionado sobre momentos difíceis na vida de um presidente, Lula falou sobre o tempo que o trabalho exige. "Fiquei oito anos em Brasília e nunca fui a um jantar, nunca fui a um aniversário. A minha vida era sair do Palácio do Planalto e ir para casa. A maioria dos domingos eu passei sozinho com Marisa (a primeira-dama Marisa Letícia) no Planalto".

Marisa

O presidente afirmou que a primeira-dama o ajuda a tomar decisões. "A Marisa dá conselho, dá palpite, fala das coisas que ela sente. E normalmente a Marisa tem razão nas coisas porque ela sabe das coisas que o povo pensa". Lula citou um exemplo, na campanha de 2006, dizendo que Marisa era a maior incentivadora de que ele deveria ir aos debates. "Eu achava que eu não deveria ir. Ela estava certa".

Ajuda divina

Questionado se sua chegada à presidência foi um designo divino, Lula disse que chegou lá talvez não só por um mérito pessoal, mas também por um dedo de Deus. "Se eu não tivesse mérito não teria chegado aonde cheguei. Agora, tem muita gente que se dizia mais preparado do que eu, que estudou mais do que eu, que achou que era mais competente do que eu, e não chegou. Eu cheguei porque, além de eu ter um partido preparado, há outras forças que ajudaram".

Dilma

O presidente rebateu as críticas sobre estar supostamente interferindo na escolha da equipe do governo de sua sucessora. "A Dilma foi ministra-chefe da Casa Civil, ela coordenava o governo. A Dilma se reuniu mais com o Guido (Mantega, ministro da Fazenda que será mantido no cargo) do que eu. Se reuniu mais com Paulo Bernardo (ministro do Planejamento, que também continuará na equipe de governo) do que eu, se reuniu mais com os ministros do meu governo do que eu".

Senado

O presidente disse que a crise do Senado, em 2009, foi tentativa de golpe da oposição e que apoiou José Sarney - presidente do Senado (PMDB-AP) - para manter "a institucionalidade". "O que estava acontecendo ali era uma tentativa de golpe no Senado para que o vice, tucano - Marconi Perillo, de Goiás - assumisse (a presidência da Casa)". A crise foi marcada desde o início da gestão Sarney quando vieram à tona diversas denúncias, como o pagamento de horas extras no período de recesso parlamentar.

Meirelles e Mantega

Sobre o ministro da Fazenda, Guido Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Lula disse que é muito grato a tudo que eles fizeram pelo Brasil e por ele. "Pode ter críticas de que houve erro aqui, demora ali, mas quando vai fazer a síntese percebe que a fotografia é mais positiva do que negativa".

Política externa

Lula respondeu críticas sobre um pragmatismo excessivo, por exemplo, no caso de Honduras, quando o Brasil defendeu o presidente deposto Manuel Zelaya. "Não existe um problema de ser duro contra adversários. O presidente de Honduras não era meu adversário. Nós fomos duros foi contra um golpe. Porque não aceitamos erro em Honduras, não aceitamos no Brasil. Eu mantenho relação com os países como chefe de Estado independentemente do pensamento político das pessoas". Lula afirmou que sempre teve muita cautela nas relações internacionais.

Irã

Lula afirmou que somente a paz vai possibilitar que o Irã se desenvolva. "Disse para (Mahmoud) Ahmadinejad - presidente do Irã - que o Brasil entende para o Irã o que entende para nós: utilizar a energia nuclear para fins pacíficos. A surpresa para Barack Obama (presidente dos Estados Unidos) e Nicolas Sarkozy (presidente francês) é que Ahmadinejad assina o acordo. Eles que deveriam ter festejado e telefonado para o Brasil e para Turquia e agradecido, ficaram com ciúmes. Ficaram com ciúmes e resolveram punir. Acho que incomoda ao mundo o fato de o Brasil estar mais importante no cenário internacional. Eles acham que só eles podem cuidar das coisas, e nós não temos que pedir licença para negociar a paz".

Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU)

Segundo o presidente, a secretaria geral da ONU tem que ser dirigida por um burocrata e não por um político. "Acho que não é prudente colocar um político na secretaria geral da ONU". Lula disse que o Brasil continua querendo a reforma do conselho de segurança da organização para que possa haver maior representatividade. "Todo mundo acha que (a reforma) vai acontecer. Acho que Sarkosy vai ajudar muito para que haja a reforma do conselho de segurança. Acho que Dilma vai continuar levando essa bandeira do Conselho de Segurança da ONU".

Popularidade

A última pesquisa Datafolha referente aos 7 anos e 11 meses de governo Lula mostra que o presidente está encerrando seu mandato com 83% de popularidade. Para Lula, o que explica isso é o resultado do trabalho. "É a combinação do desenvolvimento com as políticas sociais. Não adianta alguém falar mal de mim, porque o cara está recebendo uma casa dele. A questão social é a minha cara, é a cara da minha vida política".
A corrupção, depois da saúde, foi apontada como um dos piores pontos do governo. "Só tem um jeito de não ter notícia de corrupção: é não ter corrupto ou você jogar embaixo do tapete. Ninguém investigou o que nós investigamos. Nós prendemos policiais federais e mais de 1,5 mil servidores públicos".

Mensalão

Lula disse que vai acompanhar a questão do mensalão de perto para ver o que aconteceu. "Agora, passados cinco anos, de cabeça fria, vou reler a imprensa. Vou ver o que aconteceu em cada jornal, em cada revista, para que a gente possa remontar um juízo de valor do que aconteceu."

Fonte: Portal Terra

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