Vice-prefeito de Petrolina pede licença e rompe com prefeito-candidato Júlio Lóssio
Uma carta enviada nessa segunda-feira (30) para ao diretório regional do PSDB, pôs fim a rumores e especulações que já rondavam os bastidores da política em Petrolina, no Sertão de Pernambuco: o vice-prefeito Domingos Sávio Guimarães pediu licença da filiação partidária e rompeu de vez com o prefeito-candidato, Júlio Lóssio (PMDB).
Abaixo, a íntegra da carta e as motivações de Domingos Sávio.
Petrolina, 29 de julho de 2012
Att. Evandro Jose Moreira de Avelar
Presidente do PSDB-PE
C/C para Deputado Sérgio Guerra
Presidente Nacional do Partido da Social Democracia Brasileira
Caro Presidente,
De acordo com a nossa conversa por telefone e com a série de informações enviadas nos últimos 30 dias por e-mail, tenho procurado lhe manter informado do que tem sido comentado e veiculado na imprensa local e estadual, sobre o processo político em Petrolina, especialmente no que se refere à escolha (e seus desdobramentos) da Chapa Majoritária (Coligação PMDB/PSDB/DEM/PMN). Todos os fatos e versões desse episódio têm atingido fortemente a minha imagem como Vice-Prefeito e Secretário Geral do PSDB de Petrolina, o que me faz, após me recolher a reflexões e com serenidade, solicitar desligamento do Cargo que ocupo na Comissão Provisória e licença da minha filiação partidária, de acordo com o que permite o Estatuto.
Não pela escolha feita pela Coligação, mas pela forma como fui tratado no processo, a maneira deselegante, desrespeitosa e antidemocrática, que me retirou toda e qualquer condição de colaborar com o Partido na próxima eleição para Prefeito em Petrolina. Praticamente tomei conhecimento pela imprensa. Não fui procurado pelos representantes dos partidos aliados. Na véspera da Convenção, quando vários blogs, programas de rádio e jornais locais já haviam noticiado, tomei a iniciativa de saber o que estava acontecendo, recebendo respostas e justificativas trêmulas, dissimuladas, sem conteúdo, envergonhadas até.
Não compareci a Convenção. Não poderia. Dois correligionários e integrantes da Comissão do PSDB de Petrolina, por solidariedade e iniciativa própria, também não compareceram. Portanto, dos cinco (05) delegados do PSDB, apenas dois (02) estiveram presentes à Convenção. Além disso, os jovens militantes do PSDB não testemunharam aquela reunião e o Presidente do PSDB Jovem também não compareceu. Muito se comentou que o candidato a Prefeito, no seu discurso, esqueceu de fazer qualquer agradecimento ou mesmo referência à minha contribuição ao Governo, esquecendo que dos companheiros de primeira hora, eu era um deles. Alguns, mais experientes, me disseram: “É a dinâmica da política”. Vou ter que aprender, então?
Agradeço também as palavras dos nossos três (03) vereadores e de muitos do Governo, que também concordaram que houve erro na condução do processo, uns me falando diretamente, outros indiretamente, constrangidos com o meu constrangimento e vice-versa.
Portanto, meu Caro Presidente, acho que me submetendo a esse enredo não estarei contribuindo com o PSDB, com os fundamentos do Partido, nem com a prática democrática que tanto defendemos. Fingir caminhar esse caminho seria andar descalço dos meus valores. Não seria um bom exemplo.
Como Vice-Prefeito de Petrolina procurei manter um comportamento leal, correto e proativo ao Projeto. Não pedi a ninguém para ser Vice-Prefeito. Bateram à minha porta com um convite que ninguém havia tido coragem de aceitar, tamanho era o desafio. Sei da importância e o que somou, na campanha passada, a minha participação, a dos meus amigos, a da minha família e das pessoas que me conhecem. Entramos firmes, quentes, em um cenário totalmente adverso, com pesquisas em torno de 4%. Agora, tenho a satisfação e alegria de ver o Governo com bons índices de aprovação.
No primeiro ano e meio da nossa administração, diante de sérias dificuldades, até naturais, eu era o mais acionado para representar o Governo em ambientes onde as cobranças se avolumavam. Não me acovardei. Sempre presente, avalizando com a minha credibilidade.
Em 2010, me convenceram a desistir de uma candidatura a Deputado Estadual, acordada previamente. O Presidente da Câmara era da oposição e se tornaria na prática, o eventual substituto do Prefeito, isso seria “terrível para todos”... Aceitei com resignação, mas estranhando e conhecendo aos poucos com quem convivia. Então, fui leal e assumi a candidatura de uma companheira do PSDB, que aliás era um compromisso de toda a Coligação, o que também não foi honrado. Preferiram apoiar um candidato do PPS que hoje é candidato a Vice-Prefeito do PT. Muitos dizem que é a dinâmica da política. Vou aprendendo, então!
Não quero com isso dizer que o que fiz ou o que não fiz me traria automaticamente ou por gravidade, ao direito de permanecer na chapa. Longe disso. Fiz e faria de novo porque era a minha obrigação, inerente ao cargo e ao compromisso que assumi ao ser eleito. O que não posso é aceitar passivamente o desenrolar dessa trama.
Faltou coragem para me chamarem a tempo? Poderíamos ter encontrado outras alternativas, planejado outro papel para a minha continuidade no projeto. Não faltariam meios ou modos se houvesse vontade. Mas o respeito se escondeu em conversas noturnas, mornas e sussurradas. A ingratidão, essa fera, embalada em rápidos beijos. Dizem que é a dinâmica da Política. Sigo aprendendo, então!
Meu caro Presidente: já agradeço, pois sei que me atenderá nesse pedido e entenderá o que me move. Não creio no caminho que está posto. Nem quero atalhos, nem ser empecilho. Mas também não comungo com a omissão nem com o frio. Conto com sua compreensão. A coragem não me falta. O entusiasmo já está de volta. Fé e a esperança na boa política. Com os homens e mulheres de boa vontade. Os desafios e oportunidades do povo sertanejo ninguém segura.
Tudo passa. Nasci e me criei livre na beira desse Rio de minha mãe. Nas férias dormia mais tarde sob o luar de Canudos, no sertão de Uauá, terra do meu pai. E o aprendizado é constante feito correnteza. Os caminhos se separam e podem novamente se encontrar. O que não podemos é nos furtar de continuar olhando nos olhos de todos com a mesma firmeza. Não posso desviar meus olhos do silêncio ansioso dos que esperam meu posicionamento, dos que estão me observando feito cancão na caatinga... Prefiro me espelhar nos olhos e ouvidos do filho que pede a benção. E tem que se ter dignidade para pedir a Deus que o abençoe. E no final do dia, poder entrar com calma e retidão no aconchego do lar e apreciar a algazarra das crianças, gargalhadas no rolar da festa... Mas poder dizer com autoridade e alegria contida: “Meninos, parem com isso...”
Certo do seu apreço e confiança, leve aqui o meu abraço!
Domingos Sávio
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