Médico do Samu desabafa: “Desde segunda-feira virou um serviço de fachada”
Depois de externarem na Câmara de
Vereadores de Petrolina a situação precária que atinge o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na cidade, uma parte dos
profissionais da unidade reuniu-se ontem (14) com a representante do
Ministério Público de Pernambuco (MPPE), promotora Manuela de Oliveira
Gonçalves, para ratificar as denúncias. O relatório contém informações
do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), que confirma
todos os problemas elencados pela equipe do Samu.
Em entrevista ao Blog ainda ontem, o
médico plantonista Antonio Reis disse que a promotora comprometeu-se em
interceder da maneira que puder. Ele aproveitou para pedir à população,
da qual o Samu tem recebido grande apoio após as denúncias levadas aos
vereadores, para também provocar o assunto e estimular o MPPE.
A preocupação do médico e de toda a
equipe do Samu não é à toa. O quadro desenhado por Reis, quando foi à
Casa Plínio Amorim, é o pior possível. E tende a piorar ainda mais, se
algo não for feito logo. Ele garante que há pelo menos dois anos os
profissionais do Samu de Petrolina trabalham sem condições adequadas,
mas o serviço ficou inviabilizado esta semana. “Desde a segunda-feira (12) o Samu virou um serviço de fachada”, lamentou.
O resultado disso, na prática, já começa
a acontecer. Até o momento dois óbitos foram registrados (de um homem e
de uma menina) por falta de atendimento emergencial, já que a Unidade
de Saúde Avançada (USA) – a UTI Móvel – foi desmontada pela Secretaria
Municipal de Saúde. “O que ficamos mais tristes é saber que estamos impedidos de fazer nosso trabalho, enquanto vidas se perdem”, declarou Reis, admitindo que novas mortes poderão ocorrer. “O
Samu é um serviço de emergência. As ocorrências graves estão existindo e
não temos mais condições de atendê-las porque não temos o equipamento”, completou.
Contestação
Ressaltando que o foco das denúncias é
muito mais a vida dos petrolinenses do que os empregos da equipe do
Samu, o médico lamentou o posicionamento da secretária Lúcia Giesta, que
mesmo após reunião com a comissão de Saúde da Casa Plínio Amorim,
continua irredutível em manter a decisão de desativar a USA e afastar os
profissionais. E considerou “sem sustentação” as
justificativas de Lúcia, concedidas a uma emissora de rádio, de que o
veículo equipado com a UTI precisou ser levado ao município de Feira de
Santana (BA) para manutenção, onde fica a oficina autorizada mais
próxima da marca (Renault).
“A USA não é insubstituível. Na
verdade é uma USB (Unidade de Saúde Básica), montada com equipamento de
UTI. E temos equipamentos a postos para transformá-la em USA”,
declarou. A afirmação de Reis está no relatório entregue ao MPPE, assim
como os dados de que a Prefeitura de Petrolina vem recebendo do governo
federal a cota para manter o serviço na cidade. Entretanto, das cinco
ambulâncias do Samu (uma USA e quatro USBs) – adquiridas em 2010, na
gestão de Lúcia, inclusive – apenas uma está rodando.
O médico disse ainda ter conversado com
várias pessoas experientes em Samu, e confirmou que o exemplo de
Petrolina (o desmonte da UTI móvel) é único até agora. Reis lamentou
também o difícil diálogo com a Secretaria de Saúde, a qual não teria
dado a devida atenção às reivindicações da equipe. “Não queríamos
que chegasse a esse ponto, mas foi a forma que encontramos para mostrar
que a decisão (da Secretaria) foi equivocada. Queremos acreditar que a
gestão reconheça tão logo esse equívoco e monte novamente a unidade
avançada para cumprirmos nosso papel”, finalizou. (Carlos Brito)
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