Médico do Samu desabafa: “Desde segunda-feira virou um serviço de fachada”

quinta-feira, novembro 15, 2012 Inaildo Dionisio 0 Comentários


Depois de externarem na Câmara de Vereadores de Petrolina a situação precária que atinge o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na cidade, uma parte dos profissionais da unidade reuniu-se ontem (14) com a representante do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), promotora Manuela de Oliveira Gonçalves, para ratificar as denúncias. O relatório contém informações do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), que confirma todos os problemas elencados pela equipe do Samu.

Em entrevista ao Blog ainda ontem, o médico plantonista Antonio Reis disse que a promotora comprometeu-se em interceder da maneira que puder. Ele aproveitou para pedir à população, da qual o Samu tem recebido grande apoio após as denúncias levadas aos vereadores, para também provocar o assunto e estimular o MPPE.

A preocupação do médico e de toda a equipe do Samu não é à toa. O quadro desenhado por Reis, quando foi à Casa Plínio Amorim, é o pior possível. E tende a piorar ainda mais, se algo não for feito logo. Ele garante que há pelo menos dois anos os profissionais do Samu de Petrolina trabalham sem condições adequadas, mas o serviço ficou inviabilizado esta semana. “Desde a segunda-feira (12) o Samu virou um serviço de fachada”, lamentou.

O resultado disso, na prática, já começa a acontecer. Até o momento dois óbitos foram registrados (de um homem e de uma menina) por falta de atendimento emergencial, já que a Unidade de Saúde Avançada (USA) – a UTI Móvel – foi desmontada pela Secretaria Municipal de Saúde. “O que ficamos mais tristes é saber que estamos impedidos de fazer nosso trabalho, enquanto vidas se perdem”, declarou Reis, admitindo que novas mortes poderão ocorrer. “O Samu é um serviço de emergência. As ocorrências graves estão existindo e não temos mais condições de atendê-las porque não temos o equipamento”, completou.

Contestação

Ressaltando que o foco das denúncias é muito mais a vida dos petrolinenses do que os empregos da equipe do Samu, o médico lamentou o posicionamento da secretária Lúcia Giesta, que mesmo após reunião com a comissão de Saúde da Casa Plínio Amorim, continua irredutível em manter a decisão de desativar a USA e afastar os profissionais. E considerou “sem sustentação” as justificativas de Lúcia, concedidas a uma emissora de rádio, de que o veículo equipado com a UTI precisou ser levado ao município de Feira de Santana (BA) para manutenção, onde fica a oficina autorizada mais próxima da marca (Renault).

A USA não é insubstituível. Na verdade é uma USB (Unidade de Saúde Básica), montada com equipamento de UTI. E temos equipamentos a postos para transformá-la em USA”, declarou. A afirmação de Reis está no relatório entregue ao MPPE, assim como os dados de que a Prefeitura de Petrolina vem recebendo do governo federal a cota para manter o serviço na cidade. Entretanto, das cinco ambulâncias do Samu (uma USA e quatro USBs) – adquiridas em 2010, na gestão de Lúcia, inclusive – apenas uma está rodando.

O médico disse ainda ter conversado com várias pessoas experientes em Samu, e confirmou que o exemplo de Petrolina (o desmonte da UTI móvel) é único até agora. Reis lamentou também o difícil diálogo com a Secretaria de Saúde, a qual não teria dado a devida atenção às reivindicações da equipe. “Não queríamos que chegasse a esse ponto, mas foi a forma que encontramos para mostrar que a decisão (da Secretaria) foi equivocada. Queremos acreditar que a gestão reconheça tão logo esse equívoco e monte novamente a unidade avançada para cumprirmos nosso papel”, finalizou. (Carlos Brito)

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