Agricultora que engravidou 12 vezes do pai vai receber pensão
A agricultora Severina Maria da Silva,
46 anos completados ontem, finalmente recebeu do poder público uma
reparação em relação à falta de assistência sofrida durante os vários
anos em que foi violentada pelo pai, de quem engravidou 12 vezes. Na
quinta-feira, a Câmara de Vereadores de Caruaru concedeu a agricultora
uma pensão pecuniária que vai ajudá-la a criar os quatro filhos (e
irmãos) adolescentes que vivem com ela em uma pequena casa na Vila
Itaúna, zona rural de Caruaru.
Segundo Elba Ravane, da Secretaria
Especial da Mulher, o valor fixado foi de R$ 1 mil mensais. A pensão,
segundo Elba, é um direito adquirido e não pode ser suprimido da
agricultora, mesmo com mudanças de gestão no município. Severina
mantinha os filhos com o dinheiro da lavagem de roupas em casas
vizinhas, mas uma doença nos rins vinha impedindo que ela realizasse a
função. O plantio extraído da roça (milho, feijão) é voltado para
sustentar ela e a família.
Severina começou a ser molestada aos 9
anos. Tem cinco filhos vivos: José Severino, 14; Antônio Severino, 15;
Cícera, 12; Antônia, 18; e Antônio, 20 (este vive em uma casa próxima à
da mãe). Durante os 28 anos em que Severino Pedro Andrade, seu pai, a
violentou, Severina procurou várias vezes as Delegacias de Caruaru e
Brejo da Madre de Deus. Seu pai nunca foi preso ou sequer procurado pela
polícia. Em 2005, ela contratou dois homens para matar Severino, dias
depois de ele mostrar-se interessado em molestar Antônia, filha dele e
de Severina. Na época, a menina tinha 11 anos. A agricultora foi presa
após sair do enterro do pai (sua mãe, Maria Eudócia, a denunciou) e
passou um ano e um mês na Colônia Penal de Garanhuns, sendo considerada,
segundo o texto do processo,“perigosa para a sociedade”.
Em agosto de 2011, ela foi levada a
julgamento (no Forum Thomaz de Aquino Wanderley, no Recife) e absolvida –
o próprio promotor, José Edevaldo, entendeu que a agricultora era
vítima, não culpada. Dias depois, ela passou a ser atendida, no Centro
de Referência da Mulher, por uma psicóloga que a visitava em casa. Em
setembro de 2012, a agricultora declarou que há mais de seis meses
ninguém do serviço de saúde municipal a procurava.
A história de Severina foi contada em um
caderno especial publicado pelo Jornal do Commercio em agosto do ano
passado, intitulado A vida é Nelson (homenagem aos cem anos do
nascimento de Nelson Rodrigues), publicado na internet:
http://especiais.ne10.uol.com.br/nelson/album-de-familia.html. A
proposta de auxílio financeiro foi enviada ano passado pela Secretaria
Especial da Mulher e aprovada na última quinta-feira por unanimidade. De
acordo com a assessoria, toda a família passará a receber assistência
através da Secretaria de Políticas Sociais. Severina também é
acompanhada por uma assistente social do Centro de Referência da
localidade. (NE10)
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