Pernambucano quer deixar de ter corpo de mulher para ser um homem por completo

domingo, agosto 07, 2011 Inaildo Dionisio 0 Comentários



Ele não se encaixa dentro do próprio corpo. É como se estivesse no lugar errado. Vive em eterna crise por medo de morrer ainda como mulher. A inquietação e a mágoa completam a sua realidade.

Todo esse sofrimento faz parte da vida de Leonardo Tenório há pelo menos três anos. O jovem pernambucano de 21 anos, morador da parte recifense do bairro de Peixinhos, é um transhomem. "Até então eu nem sabia que existia isso, mas depois de completar 18 anos, pesquisando sobre o assunto descobri que era mesmo um transexual masculino", fala.

Leo, como prefere ser chamado, percebeu que o seu tipo físico não dialogava com o seu psicológico. Em uma explicação estereotipada, a situação dele é a de um homem preso em um corpo de mulher. "Essa incongruência recebe o nome de Transtorno de Identidade de Gênero; viver esse estado é fonte de sofrimento crônico”, era o que já afirmavam os primeiros estudos sobre a questão, promovidos de forma pioneira pelo pesquisador alemão Harry Benjamin em 1966.

"Em outro estudo que estava pesquisando no site do Dráuzio Varella vi que 44% dos 'trans' se descobriam apenas a partir da adolescência, e essa descoberta é quase sempre irreversível; foi quando me identifiquei", afirma Leo.

Assim, Leo, que se encaixa na condição de um transexual FTM ("Female to Male": espécie de apelido usado em todo o mundo), é considerado como tal mesmo sem ainda ter realizado a cirurgia de reatribuição sexual, termo correto para a popular: “cirurgia de mudança de sexo”. Essa transição anatômica de mulher-para-homem é o que o jovem mais quer na vida.

"Eu sei que quase ninguém vai entender, é complicado, mas para viver, eu preciso me distanciar do meu corpo, que ainda é uma parte de mim. Isso não é fácil", diz o jovem. "Às vezes quando acordo eu vejo que ainda estou dentro do corpo feminino, dá uma agonia e uma vontade de correr; poxa, poxa... Mas não adianta, né?", silencia.

A sensação de ovulação causa enorme desconforto, por isso passou desde 2009 a comprar ampolas de esteróides à base de hormônio masculino. "De três em três semanas recomeço com o ciclo de testosterona. Durante mais de um ano tomava na clandestinidade, só agora um endocrinologista da rede pública se sensibilizou com a minha situação e passou a me receitar", fala. Segundo ele, a questão transexual ainda é mal assimilada pelos profissionais de saúde. "Sei da importância do acompanhamento médico, mas o serviço de saúde público e particular é muito problemático, a maioria não entende a questão trans", diz.

De acordo com ele, no Norte/Nordeste não é possível ter acesso à cirurgia transgenital (outro nome para "mudança de sexo") pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em Pernambuco, há a possibilidade através do Hospital das Clínicas da UFPE. "A metodologia adotada pelo SUS é muito mais abrangente, já a regras básicas sugeridas pelo Conselho Federal de Medicina - bem mais restritas-, é a única que o serviço do Hospital das Clínicas tem obrigação de seguir, o que dificulta o processo de transexualização”, fala. Seguno ele, fosse através do SUS, o serviço teria muito mais recursos e o acesso seria mais amplo.

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