Risco de um novo racionamento de energia elétrica?
2001/2002 ficará marcado como o
período em que o Brasil mergulhou no racionamento de energia devido ao
desabastecimento ocorrido. Regiões do país não puderam ser atendidas nas suas
necessidades de energia elétrica, pela “barbeiragem” do governo federal da época,
que não planejou bem, não fez os investimentos necessários, além de implantar
um modelo mercantil no setor elétrico, que contribuiu de maneira decisiva ao
colapso energético. Quem afinal “pagou o pato”, digo a conta de energia mais
cara, foi o consumidor final.
2011/2012 ficará marcado com os anos
das tarifas astronômicas (mesmo a geração sendo mais de 70% de hidrelétricas),
e dos “apagões”, denominação das interrupções temporárias no fornecimento de
energia elétrica, resultando na baixa qualidade do serviço oferecido.
Responsabilidade do governo federal, cujos gestores do setor elétrico
aprofundaram o modelo mercantil, e cometeram erros crassos na política
energética, optando por ofertar energia, com a construção de usinas
termelétricas a combustíveis fósseis, usinas nucleares e mega hidrelétricas na
região Amazônica. E não priorizaram a diversificação da matriz energética com
as novas fontes renováveis, e nem a eficientização no uso da energia.
2013 inicia-se diante de declarações
e ameaças sobre a possibilidade de um risco iminente de um novo
desabastecimento de energia elétrica, principalmente pela situação de estiagem
prolongada, resultando no baixo nível dos reservatórios, e com chuvas
previstas insuficientes para recompor os estoques.
É necessário que se diga, alto e em
bom som, que a curto prazo não existe possibilidade de risco de faltar energia
para atender a demanda atual. O pífio desempenho da economia nacional, medida
pelo Produto Interno Bruto (PIB), favoreceu a que o país não sofresse uma nova
crise energética nos moldes da ocorrida em 2001/2002. Se o PIB tivesse
sido de 4,5%, como previsto inicialmente para o ano de 2012, o consumo da
indústria estaria bem maior, e ai sim haveria risco iminente de faltar energia.
E em 2013, as previsões do crescimento econômico já estão abaixo das previsões
sempre otimistas e super dimensionadas do governo federal. E são nestes
previsões governamentais que se baseia o planejamento energético na oferta de
energia.
O que ocorrerá sem dúvida será um aumento
nas tarifas devido ao repasse dos custos da energia elétrica bem mais cara das
usinas termelétricas, que estão funcionando desde o final do ano passado a todo
vapor (literalmente). Logo, os aumentos que ocorrerão nos próximos anos vão
absorver toda a redução da tarifa obtida com a medida provisória – MP 579.
Dá-se ao consumidor com uma mão, e retira com a outra.
Já a médio prazo, a situação não é
tranqüila para o setor elétrico, desde que continuem os erros serem cometidos.
E a situação somente mudará se houver uma guinada de 180º na política
energética em nosso país.
O que se pode extrair da conjuntura
atual, com declarações e ameaças de um novo racionamento de energia, é que a
sucessão presidencial começou. Não se deve politizar uma coisa tão séria para o
país, como a questão da energia. Com risco de criar o descrédito da população
em um setor estratégico, que vai além dos governos de plantão, e mesmo levar o
pânico com a possibilidade de faltar energia.
A irresponsabilidade é tanta, que
pouco importa o país. O principal é a desconstrução de quem esta no poder. E ai
vale tudo. Já vimos esta estória em anos recentes.
Por sua vez o “deus mercado” começa a
responder ao jogo político. As bolsas de valores começam a impor o sobe e desce
dos papeis das companhias elétricas. Onde vai parar esta histeria provocada?
É hora da sociedade civil se
apropriar deste setor até então “monocraticamente” dominado por alguns
“especialistas” iluminados, e apadrinhados políticos ungidos a cargos
decisórios; e fazer valer sua força quando organizada. Já que tanto o governo,
como setores da oposição não têm mais credibilidade junto à sociedade, vale o
que disse o poeta “Quem sabe faz a hora. Não
espera acontecer”. (Artigo: Heitor Scalambrini Costa - Professor da Universidade
Federal de Pernambuco)


0 Comentários: