Agente de polícia do Dops no Recife pode ajudar a esclarecer morte de Padre Henrique, após 40 anos

segunda-feira, junho 11, 2012 Inaildo Dionisio 0 Comentários


O advogado Pedro Eurico, um dos integrantes da Comissão da Verdade de Pernambuco, revelou, no programa Ponto Final, que vai ao ar nesta semana, que um agente de polícia do Dops dará um depoimento bomba, ajudando a esclarecer a morte do Padre Henrique, durante o período militar. A morte ocorreu há 43 anos.

“Estamos avaliando como será este depoimento, mas o mais importante é que já há a disposição de o agente falar para a Comissão”, observou o ex-deputado estadual, ligado a Igreja Católica e que defende ainda o padre Vito Miracapillo, expulso do Brasil. “É um depoimento da maior gravidade, do dia da morte do religioso”.

Aqui no Recife, a comissão aposta em uma grande ajuda da Igreja, que operava com a Pastoral da Terra, na época do golpe de 64. Também vai pedir ajuda para a Fetape, com ajuda de registros históricos e contatos. Nesta semana, os representantes da comissão terão um encontro com o arcebispo de Recife e Olinda Dom Saburido, justamente para falar da morte do padre Henrique.

Outro ponto de apoio da pesquisa será o Congresso Nacional dos Estados Unidos, que guarda importantes documentos da época, abertos à pesquisa pública.

“Eu me lembro que o ex-governador Miguel Arraes dizia que havia, na época do golpe de 64, 19 vice-cônsul no Recife. O número dá uma medida do olho grande no Nordeste. Toda a correspondência disponível será requisitada ao Departamento de Estado americano pela Comissão Nacional e será repassada para nós, aqui em Pernambuco”, explica.

“No entanto, não será fácil tocar a comissão”, acrescenta, numa referência ao suposto incêndio de documentos no Rio de Janeiro.

“Agora, também não podemos pautar nossas ações pela vindita (vingança)”, defende Pedro Eurico.

Já Amparo Araújo, secretária de Direitos Humanos no Recife, contou que espera obter ajuda de pessoas que estejam guardando documentos históricos, para a produção de teses de doutorado ou mestrado. O marido dela foi morto na Ditadura. Era dirigente de uma entidade chamada Ação Libertadora Nacional.

“Temos aqui em Pernambuco o maior PIB de sanque do País. São 43 pessoas mortas pelo regime”, reclama Amparo, que coloca na conta somente militantes da esquerda radical. Ela defende as reparações morais, além das financeiras.

Amparo Araujo elogia ainda o trabalho do Ministério Público Federal em Pernambuco, que tem solicitado informações e entrado com ações representando as famílias de desaparecidos políticos.

Nesta segunda-feira, existe a expectativa de que o jornalista Élio Gaspari, autor de vários livros sobre o período, faça alguma revelação ao prestar depoimento para a Comissão Nacional, em São Paulo.
 
Quem foi

O Padre Henrique foi assassinado há 40 anos por integrantes da ditadura militar.

Padre Antonio Henrique Pereira Neto, conhecido como Padre Henrique, nasceu no Recife, no dia 28 de outubro de 1940, filho de José Henrique Pereira da Silva Neto e Isaíras Pereira da Silva. Sociólogo e professor, desenvolveu atividades junto ao então Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara. Ensinou no Juvenato Dom Vital, na Cúria Metropolitana do Recife, nos colégios Marista, Nóbrega e Vera Cruz, na Escola Técnica do Derby e na Faculdade de Ciências Sociais.

Ordenou-se em 1965, na Igreja da Torre, e dedicou-se ao trabalho de orientação a jovens, na Arquidiocese de Olinda e Recife. Padre Henrique, além de prestar assistência à juventude, manteve contato com estudantes cassados e era claramente contrário aos métodos de repressão utilizados pela ditadura militar.

Em várias ocasiões, recebeu ameaças de morte, através de ligações telefônicas procedentes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC).

Mesmo com as ameaças, Padre Henrique não se deixou intimidar e continuou desenvolvendo suas atividades, vindo por isso a pagar com a própria vida.

Na noite do dia 26 de maio de 1969, então com 28 anos de idade, Padre Henrique foi seqüestrado depois de participar de uma reunião com um grupo de jovens católicos, no bairro de Parnamirim. No dia seguinte, foi encontrado morto com marcas de tortura em um matagal na Cidade Universitária.

O assassinato do Padre Henrique causou uma comoção geral.

Milhares de pessoas, exibindo faixas e cartazes, acompanharam o enterro que se transformou em manifestação pública contra a ditadura militar e seus órgãos de repressão diretamente responsabilizados pelo crime.

As investigações nunca chegaram a uma conclusão definitiva. O processo volumoso foi arquivado e reaberto inúmeras vezes, sem que nada ficasse esclarecido até a prescrição do crime.

No Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS) de Pernambuco não há nenhum registro sobre o padre, antes da morte dele. Os arquivos começam com o laudo técnico do Instituto de Polícia Técnica do Estado sobre o seu assassinato. (Jamildo)

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