Idioma é desafio para Copa no Brasil, acreditam especialistas alemães
A mobilidade urbana é uma das maiores preocupações para a Copa do Mundo de 2014, mas a língua é outro desafio que precisa ser vencido. O alerta foi dos especialistas alemães Thomas Wehr, que gerenciou o escritório da Copa do Mundo em Nuremberg, na Alemanha, e Nora Pullman, que foi coordenadora de transportes da Federação Internacional de Futebol (Fifa), na Copa da Alemanha, em 2006, e consultora de algumas cidades sul-africanas.
"Para mim, apesar das preocupações com trânsito, o maior desafio é a língua. Falta sinalização em inglês e taxistas, vendedores que falem pelo menos inglês", justifica Wehr. A sinalização em inglês é importante também para que as pessoas encontrem transporte, postos de saúde, polícia e demais serviços. "Estive no Rio de Janeiro e lá até tem sinalização em inglês, mas não é muito legível. As sinalizações no aeroporto, hotéis, aeroportos precisam estar pelo menos em inglês e legíveis, de fácil leitura", alerta Norma.
O tempo é algo que o Brasil tem a seu favor para vencer os desafios, como esse da língua. "As chances são boas para que vocês possam concluir o seu trabalho. A Copa do Mundo é um projeto muito estimulante, muito instigante" diz Norma.
Os especialistas estiveram no Recife, nesta segunda-feira (21), para uma troca de experiências com técnicos e demais pessoas envolvidas no projeto da Copa do Mundo em Pernambuco. "Esse intercâmbio de ideias é importante para ver as experiências que deram certo ou não na Alemanha e também ter uma visão diferenciada sobre o evento", ressalta o secretário da Copa do Recife, Amir Schvartz. "Não somos consultores, não viemos vender nada. Viemos trocar experiências, contar como fizemos na Alemanha e o que vimos na Copa da África", acrescenta Wehr.
Visita técnica
Na terça-feira (22), os especialistas vão junto com uma equipe técnica da Prefeitura do Recife e do Governo do Estado conhecer uma série de obras que estão sendo realizadas na RMR. A comitiva vai também conhecer o transporte urbano do Recife, utilizando ônibus de linha, terminais de integração e o metrô. "A proposta é que eles possam vivenciar de fato o funcionamento do sistema e nós possamos, na quarta-feira, sentar e conversar sobre o que eles viram", conta Schvartz.
Alemanha e África do Sul
A cidade alemã de Nuremberg recebeu três jogos da Copa das Confederações e cinco jogos da Copa do Mundo. O desafio do transporte, acredita Wehr, é levar às pessoas ao estádio. "Em 2005, realizamos a Copa das Confederações, que é uma oportunidade excelente de se preparar para a Copa. Ao contrário dos temores da Fifa, de que se repetiria a situação da França com estádios vazios, nós tivemos nossos estádios lotados", conta Wehr.
A experiência da Copa das Confederações é muito importante para a preparação para a Copa do mundo, acredita Norma. "Na Alemanha, tivemos uma relação muito próxima em todas as cidades-sede. Compartilhamos experiências e isso foi imporantante para sabermos o que deu certo, o que precisa ser mudado, inclusive para aquelas cidades que não participaram da Copa das Confederações. Essa troca de informações evitou problemas", acrescenta.
Na Copa da África, Norma conta que a mobilidade teve seus problemas. "As pessoas conseguiam chegar rapidamente aos estádios, mas sair levava muito tempo", explica a especialista. "Não havia ônibus, carros para atender às exigências da Fifa. Uma fábrica de ônibus foi para lá antes da Copa só para atender a essa demanda", lembra Norma, que acredita que o Brasil tem tempo de fazer tudo o que precisa ser feito até 2014.
Apesar de todo o planejamento, em Frankfurt a organização foi surpreendida, conta Norma. "Nós fomos surpreendidos. Os torcedores dominaram, conquistaram o centro da cidade. Nós não tínhamos como prever que viriam tantas pessoas", lembra. Outro desafio é que a Copa do Mundo não interrompa a vida normal da cidade. "As pessoas queriam também levar sua vida normalmente. Não podíamos paralisar nossa cidade por quatro semanas", conta. Para isso, foram criados quatro grupos de estudo só para a questão do trânsito.
A sustentabilidade foi o mote do planejamento da mobilidade urbana em Frankfurt. "A ideia era reduzir o numero de carros e veículos. O objetivo da sustentabilidade foi muito importante para nós. Todas as ações de infraestrutura estavam orientadas para que depois da Copa do Mundo pudessem ser utilizadas. Era um dos nossos objetivos não fazer nada que não pudesse ser utilizado pela a população posteriormente.", afirma. Em Nuremberg, o acesso às arenas foi de 70% por transporte público e de 60% em Frankfurt, segundo Norma. "O preço da passagem já estava integrado ao ingresso, o que incentivava as pessoas a utilizarem os transportes públicos".
Analisar o transporte público e incentivar o seu uso é um dos pontos que se precisa estar atento. "Apesar do metrô e dos ônibus serem transportes bem diferenciados, nós unificamos para os visitantes todas as informações. Para facilitar, unificamos também o preço da tarifa", diz Norma. As informações estavam também disponíveis através da internet, além dos folderes entregues aos visitantes.
As cores foram usadas para facilitar o acesso das pessoas à arena e também para a segurança. "De acordo com a cor da sua cadeira, você sabia onde estacionar, por exemplo. Se o seu ingresso era para o setor azul, o estacionamento era o mais próximo do setor azul. Assim também funcionava com a parada do bonde. Se o bonde estava com a sinalização azul, ele parava na porta da entrada azul", explica Norma. "As cores têm consequências práticas. Você tem que olhar para o estádio e pensar como vai funcionar no dia dos jogos, como em dia de seleções que tem histórico de brigas de torcidas. É uma forma de evitar que elas se encontrem", lembra Wehr.
Listas de coisas a fazer, planejar, trocar experiências entre as cidades-sede exige tempo, mas para Norma é um ponto essencial. "Seis anos depois, eu posso dizer que isso não foi exagerado. Lógico que levavamos muito tempo fazendo os relatórios, mas foi essencial para tudo dar certo", acredita. O aprendizado da Copa serviu para outros grandes eventos. "A lista de diretrizes e checagem, feita para a Copa, foi usada para o torneio de ginástica olímpica", exemplifica Norma.
As particularidades de um evento como a Copa do Mundo foram relembrados frequentemente pelos dois especialistas. "A Copa do Mundo é um evento muito especial. Levou um certo tempo para a África do Sul entender que esse não era um jogo de rugby comum e sim algo realmente especial, diferente de qualquer outro evento", afirma Norma, mostrando que, nesse ponto, o Brasil está em vantagem, ao perceber que esse não é um evento qualquer. "Uma Copa do Mundo não é igual a qualquer outro grande evento. Não se pode comparar outros eventos aos da Copa".
Fonte: G1
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