Produzir células-tronco em escala industrial é a meta
No fim do mês passado, o governo brasileiro decidiu investir R$ 15 milhões para tornar o País um produtor comercial de células-tronco. O material biológico tem potencial de curar todo tipo de doença e já começou a ser fabricado em escala industrial nos Estados Unidos e na Europa. Mas para ir da atividade de pesquisa ao setor produtivo é preciso bem mais que um decreto. É preciso tecnologia. Cerca de R$ 8 milhões dessa verba serão usados na conclusão de oito centros de terapia celular. Três deles - em Ribeirão Preto (SP), Salvador (BA) e Curitiba (PR) - já estão em funcionamento.
Segundo o pesquisador responsável pelo laboratório curitibano, Paulo Brofman, os recursos são necessários para transformar uma atividade que até bem pouco tempo era artesanal em um processo industrializado. "A terapia celular é altamente personalizada. Mas a escala de pacientes em um país como o Brasil é tão grande que é preciso atingir níveis de produção iguais aos de medicamentos comuns", diz Paulo Brofman. "Felizmente hoje já existem métodos automatizados para produzir células-tronco nessa quantidade", afirma.
As células-tronco podem ser obtidas a partir de diversas fontes: do sangue, da medula óssea e até do tecido gorduroso. Mas é no sangue localizado nos cordões umbilicais que se encontram amostras em maior quantidade e com maior grau de pureza. O procedimento clássico envolve a coleta da amostra e a contagem das células-tronco a partir de um equipamento chamado citômetro de fluxo. Ele usa raios laser e sensores computadorizados para contar as células. Depois vem a separação do material, que pode ser feita através de instrumentos semelhantes a pequenos rodos adesivos, que capturam as células a serem transferidas para a incubação.
O processo de incubação do material dura cerca de três semanas. Nesse período, a amostra de células-tronco cobre toda a superfície de uma placa de vidro. A partir daí, o número de células dobra a cada 24 horas. O procedimento requer a manipulação constante das placas para estimular a adesão das células. No entanto, equipamentos como o biorreator conseguem aumentar em pelo menos 50 vezes o número de células-tronco prontas para o uso.
"No método manual obtemos alguns milhões de células-tronco, o que é suficiente para o tratamento de uma pessoa. Com o biorreator, conseguimos multiplicar o atendimento em 50 vezes", diz Brofman. O equipamento funciona chacoalhando a amostra, estimulando a produção e fazendo as células se agregarem automaticamente.
Mas toda esta superprodução não adiantaria de muita coisa se o produto final fosse desperdiçado. Com técnicas e equipamentos de preservação é possível deixar as células semiprontas para uso posterior. As amostras são resfriadas de forma gradual por equipamentos computadorizados e só depois são colocadas em tanques de nitrogênio líquido. As células podem ser retiradas a qualquer momento e utilizadas em transplantes.
Um dos momentos mágicos da manipulação de células-tronco é a utilização de reagentes para reprogramá-las. Através de processos químicos durante a cultura é possível direcionar a multiplicação das células, criando assim ossos, músculos, ou tecidos de qualquer órgão. Finalmente, a implantação pode ser feita injetando plasma enriquecido com células-tronco na corrente sanguínea ou realizando a aplicação direta. Se um paciente cardíaco for submetido ao tratamento, o material será introduzido através de um cateterismo, por exemplo.
Brofman exemplifica que só pacientes com insuficiência cardíaca no Brasil somam mais de 350 mil casos por ano. No entanto, há somente 200 mil transplantes de coração por ano. "As células-tronco também podem fazer a diferença na prevenção de amputações. Ao todo, 800 mil brasileiros são amputados anualmente. Se reduzirmos em apenas 5% o número de pacientes, são 40 mil pessoas que não perderão seus membros", diz o pesquisador.
PERNAMBUCO - Em Pernambuco, o centro de referência em tratamentos com células-tronco é o Hospital Agamenon Magalhães (HAM). Há quatro anos, o HAM possui um laboratório que trata, em caráter experimental, pacientes vítimas de infarto. O trabalho usa as células no rejuvenescimento do coração, que fica comprometido após os ataques. Segundo um dos coordenadores do centro, Heitor Medeiros, já foram tratados 50 pacientes desde o início das atividades. Somente este ano, seis pacientes receberam células-tronco. Todos obtiveram resultados positivos.
Já na UFPE as pesquisas estão voltadas para a recuperação de ossos de pacientes em tratamentos dentários invasivos. Segundo a pesquisadora do Laboratório de Imunopatologia da UFPE (Lika), o centro já produziu três teses de doutorado com pesquisas nas quais foi comprovada a regeneração do maxilar, osso de difícil recuperação segundo a especialista. (Do NE10)
Segundo o pesquisador responsável pelo laboratório curitibano, Paulo Brofman, os recursos são necessários para transformar uma atividade que até bem pouco tempo era artesanal em um processo industrializado. "A terapia celular é altamente personalizada. Mas a escala de pacientes em um país como o Brasil é tão grande que é preciso atingir níveis de produção iguais aos de medicamentos comuns", diz Paulo Brofman. "Felizmente hoje já existem métodos automatizados para produzir células-tronco nessa quantidade", afirma.
As células-tronco podem ser obtidas a partir de diversas fontes: do sangue, da medula óssea e até do tecido gorduroso. Mas é no sangue localizado nos cordões umbilicais que se encontram amostras em maior quantidade e com maior grau de pureza. O procedimento clássico envolve a coleta da amostra e a contagem das células-tronco a partir de um equipamento chamado citômetro de fluxo. Ele usa raios laser e sensores computadorizados para contar as células. Depois vem a separação do material, que pode ser feita através de instrumentos semelhantes a pequenos rodos adesivos, que capturam as células a serem transferidas para a incubação.
O processo de incubação do material dura cerca de três semanas. Nesse período, a amostra de células-tronco cobre toda a superfície de uma placa de vidro. A partir daí, o número de células dobra a cada 24 horas. O procedimento requer a manipulação constante das placas para estimular a adesão das células. No entanto, equipamentos como o biorreator conseguem aumentar em pelo menos 50 vezes o número de células-tronco prontas para o uso.
"No método manual obtemos alguns milhões de células-tronco, o que é suficiente para o tratamento de uma pessoa. Com o biorreator, conseguimos multiplicar o atendimento em 50 vezes", diz Brofman. O equipamento funciona chacoalhando a amostra, estimulando a produção e fazendo as células se agregarem automaticamente.
Mas toda esta superprodução não adiantaria de muita coisa se o produto final fosse desperdiçado. Com técnicas e equipamentos de preservação é possível deixar as células semiprontas para uso posterior. As amostras são resfriadas de forma gradual por equipamentos computadorizados e só depois são colocadas em tanques de nitrogênio líquido. As células podem ser retiradas a qualquer momento e utilizadas em transplantes.
Um dos momentos mágicos da manipulação de células-tronco é a utilização de reagentes para reprogramá-las. Através de processos químicos durante a cultura é possível direcionar a multiplicação das células, criando assim ossos, músculos, ou tecidos de qualquer órgão. Finalmente, a implantação pode ser feita injetando plasma enriquecido com células-tronco na corrente sanguínea ou realizando a aplicação direta. Se um paciente cardíaco for submetido ao tratamento, o material será introduzido através de um cateterismo, por exemplo.
Brofman exemplifica que só pacientes com insuficiência cardíaca no Brasil somam mais de 350 mil casos por ano. No entanto, há somente 200 mil transplantes de coração por ano. "As células-tronco também podem fazer a diferença na prevenção de amputações. Ao todo, 800 mil brasileiros são amputados anualmente. Se reduzirmos em apenas 5% o número de pacientes, são 40 mil pessoas que não perderão seus membros", diz o pesquisador.
PERNAMBUCO - Em Pernambuco, o centro de referência em tratamentos com células-tronco é o Hospital Agamenon Magalhães (HAM). Há quatro anos, o HAM possui um laboratório que trata, em caráter experimental, pacientes vítimas de infarto. O trabalho usa as células no rejuvenescimento do coração, que fica comprometido após os ataques. Segundo um dos coordenadores do centro, Heitor Medeiros, já foram tratados 50 pacientes desde o início das atividades. Somente este ano, seis pacientes receberam células-tronco. Todos obtiveram resultados positivos.
Já na UFPE as pesquisas estão voltadas para a recuperação de ossos de pacientes em tratamentos dentários invasivos. Segundo a pesquisadora do Laboratório de Imunopatologia da UFPE (Lika), o centro já produziu três teses de doutorado com pesquisas nas quais foi comprovada a regeneração do maxilar, osso de difícil recuperação segundo a especialista. (Do NE10)
Muito boa essa reportagem!
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