Carta de um policial para um bandido
Senhor Bandido.
Esse termo de senhor que estou
usando é para evitar que macule sua imagem ao lhe chamar de bandido,
marginal, delinquente ou outro atributo que possa ferir sua dignidade,
conforme orientações de entidades de defesa dos Direitos Humanos.
Durante vinte e quatro anos de atividade policial, tenho acompanhado suas “conquistas” quanto à preservação de seus direitos.
Pois os cidadãos, e especialmente
nós policiais, estamos atrelados às suas vitórias, ou seja, quanto mais
direito você adquire, maior é nossa obrigação de lhe dar segurança e
de lhe encaminhar para um julgamento justo, apesar de muitas vezes você
não dar esse direito às suas vítimas.
Todavia, não cabe a mim contrariar a
lei, pois me ensinaram que o Direito Penal é a ciência que protege o
criminoso, assim como o Direito do Trabalho protege o trabalhador, e
assim por diante.
Questiono que hoje em dia você tem mais atenção do que muitos cidadãos e policiais.
Antigamente você se escondia quando
avistava um carro da polícia; hoje, você atira, porque sabe que numa
troca de tiros o policial sempre será irresponsável em revidar.
Não existe bala perdida, pois a
mesma sempre é encontrada na arma de um policial ou pelo menos a arma
dele é a primeira a ser suspeita.
Sei que você é um pobre coitado. Quando encarcerado, reclama que não possuímos dependências dignas para você se ressocializar.
Porém, quero que saiba que
construímos mais penitenciárias do que escolas ou espaço social, ou
seja, gastamos mais dinheiro para você voltar ao seio da sociedade de
forma digna do que com a segurança pública para que a sociedade possa
viver com dignidade.
Quando você mantém um refém, são tantas suas exigências que deixam qualquer grevista envergonhado.
Presença de advogados, imprensa,
colete à prova de balas, parentes, até juízes e promotores você consegue
que saiam de seus gabinetes para protegê-los. Mas se isso é seu
direito, vamos respeitá-lo.
Enfim, espero que seus direitos de marginal não se ampliem, pois nossa obrigação também aumentará de ser um policial.
Dois colegas de vocês morreram, assim como dois de nossos policiais sucumbiram devido ao excesso de proteção aos seus direitos.
Rogo para que o inquérito policial
instaurado, o qual certamente será acompanhado por um membro do
Ministério Público e outro da Ordem dos Advogados do Brasil, não seja
encerrado com a conclusão de que houve execução, ou melhor, violação aos
Direitos Humanos, afinal, vocês morreram em pleno exercício de seus
direitos. (Autor: Wilson Ronaldo Monteiro, Delegado da Polícia Civil do Pará)
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